sexta-feira, 12 de junho de 2009

Uma introdução à temática...

Os muros que preocupam são muitos. Aqui no Rio de Janeiro estão chamando de "ecolimites" os muros criados para cercar as favelas, conter sua expansão e "proteger a mata atlântica" que as envolve. Ainda que nosso problema de desmatamento fosse específico de uma classe social, ainda não
adiantaria. Pois construído um muro, restarão apenas mais 3 e um teto para se conceber uma casa. E também vale lembrar que não é a disbonibilidade ou a falta de espaço físico que faz surgir ou desaparecer uma favela. Alguns outros fatores deveriam estar inseridos no assunto.


Muro é controle, nos disse uma moradora de uma favela carioca. Muro é controle, é violência, é discórdia, é separação. Imaginem se por um
descuido arquitetônico esqueçem de construir portões para tanto muro. Pois a favela não sairia de si, e as pessoas não sairiam dela. Se nega
a cidade para tais pessoas, se impõe , além do limite existencial que há em nossa sociedade (que são muitos) um limite físico. Daqui, não passa ! Falta nessa discussão toda um esclarecimento maior do nosso foco de luta. Estamos combatendo a pobreza ou combatendo os pobres ? As atuações policiais e os muros nos dão a pior resposta, infelizmente. . . As favelas crescem com a conivência da sociedade e sofrem um preconceito infundado. Se, hoje, fechassem a favela a cidade do Rio de Janeiro pararia. E o nosso quase arquiteto Chico Buarque nos lembra
"Mas há milhões desses seres que se disfarçam tão bem, que ninguém pergunta de onde essa gente vem. São jardineiros ,Guardas noturnos, casais São passageiros ,Bombeiros e babás ,São faxineiros, Balançam nas construções, São bilheteiras ,Baleiros e garçons"

Em 1964 outro poeta, o João Goulart, nos da um aviso importante em seu discurso :" meus patrícios, a hora é a hora da reforma,
brasileiros, reforma de estilo de trabalho, e reforma de objetivo para o povo brasileiro. Já sabemos que não é mais possível produzir sem
reformar, que não é mais possível admitir que essa estrutura ultrapassada possa realizar o milagre da salvação nacional, para milhões e
milhões de brasileiros(...). O caminho da reforma é o caminho da progresso e da paz social. Reformar trabalhadores é solucionar pacificamente ascontradições de uma ordem econômida e jurídica superada, inteiramente superada pela realidade dos momentos em que vivemos." E a tão falada Reforma Urbana, que tem por finalidade o direito à cidade para todos é rompido por um muro e por uma ideologia criada a muitos anos. De 1964 até 2009, onde será que se perdeu o fio da meada ?



Falando em muros, somos remetidos a alguns outros. A muralha da china, criada para impedir invasões começou a ser erguida em 220 A.C.. E
outro, mais famoso, que dividiu a Alemanha em duas e representou uma divisão mundial entre duas políticas econômicas foi derrubado em 9 de Novembro de 1989, depois de 28 anos de existência. Hoje, o muro de Berlim, é uma grande atração turísica e palco de manifestações artísticas.
Uma delas nos transcende um opnião que o próprio muro deve ter: " no mundo, são muitos os muros que precisam ser derrubados."

A hora é hora de desconstrução, de rompermos obstáculos, de vencermos muros e outras barreiras. Duas em especial, os muros que separam nossa universidade da realidade e os muros que separam a preocupação da arquitetura com a realidade.

Tendo o EMAU concebido com sua finalidade básica, que é levar arquitetura e urbanismo a quem não tem acesso. Estamos dando um passo em direção ao progresso, ao menos alguns tijolos estão sendo tirados desses muros. Fazer a universidade descer de seu pedestal e vivenciar e
experimentar o mundo são menos tijolos no muro. Reafirmar a Extensão universitária como processo acadêmico definido e efetivado em função
das exigências da realidade, indispensável na formação do aluno, na qualificação do professor e no intercâmbio com a sociedade são
menos tijolos no muro. Reconhecer que a universidade não pode se imaginar proprietária de um saber pronto e acabado, que vai ser oferecido à
sociedade, mas, ao contrário, exatamente porque participa dessa sociedade, a instituição deve estar sensível a seus problemas e apelos é são menos tijolos no muro.

E Nos reunirmos, em âmbito nacional, durante uma semana para construirmos coletivamente um sonho de mundo melhor, de uma arquitetura bem intencionada são menos tijolos no muro. Nos inserirmos nessa corrente para vivermos o problema, nos sensibilizarmos com as causas e obtermos uma mudança de postura, aí são muitos tijolos e muitos muros que cairão. Pois então, mãos a obra que o trabalho será grande.

Senemau RIO 2009.